Saudade, uma necessidade de não sentir

Todas as datas nesta viagem coincidentemente (ou não) são múltiplas de 7. Hoje faz vinte e um dias que estou fora de casa. Se estou com saudade?

mh empress

Não. Porquê? Porque estamos todos bem, cada um no seu lugar.

A vida preparou-me quarenta anos para esta mudança e eu recebo-a de braços abertos sabendo que numa escolha há ganhos e perdas, mas a vida ninguém a pode viver por nós.

O que me espera está lá e lá vai estar. É assim simples de se entender. Saudade é outra coisa.

A minha saudade é outra, é uma necessidade que equivale a respirar. Tem vezes que me falta o ar. Parece que vou morrer. Mas não vou. E, por estes dias, li um texto que me dizia o que eu sentia. Trechos que me devolviam à vida e me diziam que toda a escolha tem a sua consequência. Mas que na nossa escolha, carregada de ausência, podemos ser felizes.

Estou quase a regressar, de volta à realidade que não sei mais se é a minha. Deixo o lugar onde me encontrei. Eu sempre soube que assim seria. E até sei o que será. Mas volto a casa, volto a casa aos meus com a certeza de voltar aqui a mim. Porque sei, vou morrer de saudades e, para de novo viver, tenho que cá estar.

Saudade não é falta. Saudade é presença imortalizada dentro da gente.

Porque saudade também é inspiração. Elas chegam nas horas mais inesperadas. Num momento de distração, a velha sensação de vazio se transforma em música, dança ou poesia. Você está caminhando no seu dia cinzento e, de repente, uma ideia invade a sua mente: é o esboço de um novo verso, é a cor da esperança que você procurava.

Vinicius de Moraes disse que “a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu”. Ter saudade não é fácil, porque ela nos deixa perdidos e abandonados dentro da vida. Por isso, precisamos olhar para o nosso vazio a ponto de compreendê-lo. Assim, compreenderemos a nós mesmos e conseguiremos transformar a ausência em algo bom e bonito.

“Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.” Ao ler Carlos Drummond de Andrade, sinta a saudade nos seus braços. Abrace-a. Aconchegue-a. Então ria e dance com as recordações incríveis que se foram. Percorra o rio da sua mente e mergulhe em sua alma, preencha com sentidos e imaginação o vácuo da saudade.

Sinta. Inspire-se. Vire-se do avesso e encontre sua verdade. Aguente até amanhã. A presença do seu vazio é que vai lhe trazer coragem necessária para ser aquilo que deseja. E amanhã o sol sairá das tuas nuvens sombrias.

in Revista Bula, por Rebeca Bedone

 

ida com volta rj

Hoje regresso ao lugar de onde parti! O Porto, o meu Porto!

Eu sou assim amo o Porto desmedidamente. Amo o seu granito, o seu frio, o seu sol tímido, as suas gentes, a minha casa, as minhas gentes. Até a Árvore de Natal iluminada que me aguarda na Avenida!

Já o disse sem decoro que não tenho saudades. Não sinto falta de nada, de ninguém. E, por isso, também não me sinto em falta. Dei tudo de mim durante muito tempo. Não foi tempo demais porque todo o amor que dei, todo o carinho, toda a atenção, toda a dedicação, eu recebi-a em dobro, em triplo. E, por isso, quando vim, vim em paz. Livre. E essa sensação ainda não passou. Poderia cá ficar mais um mês, dois ou três e ficava bem. Mas vou voltar!

Regresso

Parto com o coração cheio … Tão feliz como quando cheguei … Aprendi que partir está em mim e que assim sou feliz!

Li dois livros … Como achei que teria  tempo para mais?

Um deles, o segundo e o último, ao qual voltarei, dizia-me na contra capa

Acredito, pelo que aprendi experimentando, que viver é largar e seguir em frente. Mesmo que em frente esteja apenas o incerto, o desconhecido, o não vivido. Aprendi também que vemos o que vemos, o que queremos ver e o que ninguém mais enxerga. Vemos tanto mais quanto a nossa disponibilidade de ver: viajamos para dentro de nós, primeiro que tudo.

MST in Não se encontra o que se procura

Como cantava Cartola “A sorrir, eu pretendo levar a vida” porque se lágrimas houver eu transformo-as em sorrisos e gargalhadas sonoras!

Adeus meu Brasil, meu Rio de Janeiro … até breve, muito breve!

Até já Porto!

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