Procuro por mim desde que me sei por gente. Têm sido muitos os desencontros. De mim para mim. Pois que sei que apenas de nós sabemos. E mal. Sobre mim sei um pouco. Não muito. Mas busco-me a toda a hora. Pergunto-me a mim mesma: Sabes quem és?
Sim, claro. Sou mulher, filha do pai e filha da mãe. Sou pequena de pé delicado. Arisca. Com mau feitio. Mas doce também. Sei que amo. E por vezes odeio. Não sou morna. Sou respondona. Não levo desaforo para casa. Rude quando calha. Mas esta é apenas uma ínfima parte do que sou. Sabes quem és?
Sou quem sou. Sou quem está. Sou quem foi. Sou quem insiste. Sou quem despreza. Sou ela. Sou ele. Sou os meus. Sou os deles. Sou para ti. Sou de ninguém. Sou minha. E tua. Mas se sei?
Sabes quem és?
Quem sou? Tenho uma leve ideia. Não vim com instruções. Se vim, deitei-as fora. Achei ontem que era assim. Hoje acho que afinal. Amanhã, que sei eu. Não é fácil ser eu. E, por isso, porque me dou trabalho. Porque me exausto. Porque me canso de mim mesma. Procuro-me. Sim. Nos livros. Nos filmes. Nas canções. No silêncio. No samba. Na choro do cavaquinho. Na bateria que ruge furiosa. Que grita.
Quem és tu? Sabes quem és?
Sei. Sei sim. E quando não souber, pergunto-me. Porque não desisto. De mim. Porque mesmo quando não me gosto, perdoo-me. Não sem antes reclamar, resmungar, cobrar. Que eu não sou fácil comigo mesma. Mas é comigo que conto. Mesmo fraca, mesmo débil, mesmo desfeita. Tantas vezes. Demasiadas. Tantas vezes. E, sabe, rapariga, fica a saber … que isto que aqui temos feito, nesta vida, neste caminho, tem sido muito mais do que alguma vez esperaste (se calhar, sempre o soubeste.).
Nem sempre sei quem sou. Que sou muitas dentro de mim. Mas sou sempre eu. E esta é a única que quero saber quem é.
Helena