O dia amanheceu com maré vaza e aqui, quando falamos de maré vaza, é de caminhar pela areia sem sentir a água e depois de senti-la, apenas nos cobrir os pés e por aí segue até nos cobrirmos, salgada e quente, que nos acaricia a pele no vai e vem das ondas.
Tinha agendado um passeio com várias pessoas que estavam hospedadas no Alizeés Moreré e seria Dominique que nos guiaria. O dia prometia! Seguiríamos na lancha da pousada, o grupo era de doze pessoas e iríamos visitar as maravilhas naturais de Boipeba e mais inacessíveis.
Começaríamos pelas piscinas naturais protegidas por barreiras de corais, onde a água pela cintura, um pouco mais fria, nos permitia com o equipamento adequado fazer snorkeling (i.e. respirar por um tubo a quarenta cm de profundidade, com óculos de mergulho e barbatanas) onde se aprecia e contempla a transparência do mar, a rica flora e fauna. Eu, novata nesta andanças, passei a experiência pois não me senti à vontade nem com o equipamento, nem com os corais que queria evitar pisar.
mais adiante, seguimos até aos mangueis, um ecossistema presente na costa, transição entre os ambientes terrestre e marinho, trata-se de uma zona húmida, característica de regiões tropicais e subtropicais. Aqui é o habitat natural onde vivem belos caranguejos como o Siri-azul e o Aratu-vermelho, apanhados à mão por locais e vendidos, ou com sorte servidos logo ali mais à frente!
Descemos da lancha e caminhamos, entrando no mangue, sentido a lama nos pés e a surpresa da vida subaquática que não víamos mas sentimos a roçarem-nos as pernas. Ainda tive a oportunidade de experimentar o inesperado: ser mordida (!) por uma mosca chamada mutuca numa coxa com direito a sangue e pisadura! É, a vida tropical é imprevista.
As raízes expostas formam emaranhados e labirintos misteriosos que escondem a riqueza de uma biodiversidade única e preservada por lei.
Por fim, o melhor, a praia dos Castelhanos, que encerra a lenda de um navio espanhol naufragado em tempos idos, a mais bela e a mais deserta de todas as praias.
Fomos logo recepcionados com caipirinhas de caju e piripiti, o limão da Bahia, servida em fruto de cacau, ou seja, dentro do fruto como se um copo se tratasse. Ah, a vida é boa!
Ainda do nada umas tábuas montadas, uma botija fogão improvisado, uns nativos empreendedores e esta delicia de lambreta: caldo típico da Bahia, para beber servido à parte, onde se cozinham as saborosas amêijoas, cebola, tomate e salsa com lima espremida.
Os siris-azuis, ainda vivos, lá estavam para serem vistos e quem sabe comidos, para quem quisesse.
As areias finas, quentes e suaves, com as sombras improvisadas das folhas de palmeira e a companhia dos naturais da terra conferia a este momento uma magia, abençoada pelas maravilhosas águas, transparentes e cristalinas.
Cruzavam-se destinos e vidas neste fim do mundo que se reconheciam. Atrevo-me a dizer: até já!
mh