Cheguei ontem. Cheguei com a chuva. Mas ainda assim um bela noite. E Lisboa, Lisboa continua menina e moça. Como sempre.
Sugestão de uma amiga, fui para uma casa de hóspedes à antiga, onde as escadas, em versão nunca mais acabam enrolam, até chegar e a gente nova, muito simpática e acolhedora.
O soalho corrido rangia debaixo dos meus pés, o que a mim me agrada pois lembra-me a casa da minha avó, em Santa Catarina, no Porto. O quarto branco, silencioso era tudo o que queria para descansar e pôr em dia toda a escrita. Adormeci tarde mas dormi o sono dos justos.
Hoje, preguicei o quanto pude resolvendo umas pendências por telefone, até que pronta fui tomar o pequeno almoço completo, bem servido e fresco que me preparou para um bom par de horas de trabalho non-stop.
Até decidir que era hora de ir passear.
Eu adoro Lisboa! E, de certo, tem a luz mais bonita do mundo!
Vim desde o Principe Real até ao Largo de Camões, e apesar de ameaçar chuva, Lisboa recebeu-me quente e carinhosa, como sabem ser as tardes de outono. Já seriam umas três. Segui o instinto e o bom ar. Entrei e fui recebida por tampos de mármore em pés de madeira sobre um chão desenhado para que dele gostemos, velho e gasto, mas nosso. Sentei-me ao lado do balcão e descansei apoiada no braço.
Na Taberna da Rua das Flores somos mais felizes. Pedi meia desfeita de bacalhau, que não se usam nomes impróprios, branco da casa e fui ouvindo o fado que Cristina Branco trinava cantando com dor, e, de repente, noutra versão, inesperadamente, Siouxsie and the Banshees.
Lisboa, é ou não é felicidade?
Deixei-me ficar. Observava, apenas. A seguir, queria subir a Rua do Século que é exigente e prendada. Um deleite! Ao chegar ao cimo, de novo no Principe Real, a chuva chegava suave e morna. Andava, quase sem rumo, no silêncio da minha companhia, envolta no ruído ensurdecedor do fim da tarde, apreciando. Todos passavam para trás e para frente, invisíveis, e apenas o cheiro a castanhas assadas me guiava. É que são quentes e boas, canta-se!
Agora, depois de uma chuvada que engrossou e me molhou dos pés à cabeça, volto ao trabalho que me espera!
Amanhã, logo cedo, partirei para Madrid e, logo de seguida, para Las Palmas. Chegar é partir muitas vezes!
mh
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