Viver o Hoje e o Agora (Hoje é o meu dia preferido)
Nunca a vida foi tão actual como hoje: por um triz é o futuro.
Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa.
O tempo não existe.
O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos.
O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie.
Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna.
Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide.
De agora em diante o tempo vai ser sempre atual.
Hoje é hoje.
Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje.
O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia.
Clarice Lispector, in ‘Um Sopro de Vida’
Lembrei-me de um livro que li em 2008. Passaram-se 9 anos. Foi um ano difícil na minha vida. Tinha dois filhos lindos que amava como à própria vida. Tinha saúde. Tinha trabalho. Mas não tinha alegria. Não me sentia amada. Não me sentia compreendida. E acima de tudo, sentia-me só.
Via a Oprah diariamente (sempre me senti próxima daquela cultura televisiva americana, a vida é um show!) e conheci a Liz Gilbert, a sua história contada sobre os vários episódios da sua vida, e corri a comprar o livro. Os seus dramas eram os meus. Também eu chorava até às entranhas, sufocada, no chão frio da casa de banho. Também eu me sentia vazia. Também eu queria fugir da minha vida, tão imensa de sonhos, e tão mesquinha de realidade. Que ingrata!
Bebi sofregamente cada palavra fácil de uma história simples quanto transformadora. Eu ia fazer como ela. Eu ia partir. E inspirada renovei todas as forças que necessitava para dar a volta à minha vida. E se eu achava que sabia alguma coisa. Mal eu sabia o que estava para vir..
Mas HOJE é realidade e HOJE eu sigo. E sigo porque vou inspirar outras (e outros) a viverem a sua vida livres e verdadeiros nos seus propósitos.
Não largo tudo. Tudo permanece. Todos me aguardam. Sigo livre. Com o orgulho dos meus filhos. E admiração do meu marido. Sigo porque eles, que também sou eu, sabem que necessito de ir para respirar. Para ser. E sigo porque só solta lhes posso pertencer.
Encerro na partida a minha essência. Sigo em frente com a certeza de regressar sempre aos meus. E vou voltar a partir. E vou ser mais eu mesma.
mh