Sobre Desapego (e gratidão)
Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato.
Fernando Pessoa
A Gratidão anda de mãos dadas com o Desapego. Assim o é para mim. Quando comecei a desenhar estes dias que passam, sabia dos meus valores. A gratidão é o primeiro deles. Sou grata a tudo o que conquistei. Sou grata aos que estão hoje e estiveram ontem ao meu lado.
Mas esta gratidão alinha-se pelo desapego.
Comecei por mim, fui aos outros e, de novo, a mim voltei. Para me poder dar inteira. Uma vida em retrospectiva que a quero muito à frente! Raios me partam se não quero! E vai ser exactamente assim.
Às matemáticas do ego dei a importância que têm. Pouca. Quero sim chegar aos outros. A quantos mais chegar mais o meu propósito ganha sentido. Quantos mais lerem melhor. Se os inspirar ficarei grata.
Quando há retorno, o feedback, a mim enche-me as medidas. Uns mais tímidos, outros entusiastas, também os há cautelosos, até desconfiados. Mas que é tão bom, muito bom, estimulante, generoso, acolhedor e verdadeiro!
E, eu, é de verdades que vivo (cada vez mais, pois houve tempos em que andava enganada) e a verdade de um abraço, de um sorriso, de um beijo, de uma partilha não necessita de contabilizações, nem balanços!
E assim encontro desapego de tudo. Pois que me basta.
Hoje, o dia vai ser longo. Mil coisas eu vou fazer. Mil assuntos vou resolver. Rirei com vontade. Suspirarei cansada. Ao fim da tarde com pressa irei atrasar-me. Beijarei os meus filhos. Abraça-los-ei. É que quando começo na folha em branco dos dias sei o que não me pode faltar.
É um desapego de nada e uma gratidão por tudo.
Para já ainda descanso. Estou só. Em paz. Agradeço. Hoje e sempre.
mh