CHEGUEI BRASIL! CHEGUEI BAHIA. CHEGUEI SALVADOR!
Cheguei Brasil! Cheguei Salvador! Cheguei!
Obrigada! Obrigada! Mil vezes Obrigada!
Ainda estou a chegar, mas confesso que a emoção está a tomar conta de mim e as lágrimas não param de rolar. É alegria, brindada com muita emoção!
A minha chegada ao Brasil foi por Salvador da Bahia! E foi perfeita entrando pela Baia de Todos os Santos!
Quanto a escrever, não é que me falte a inspiração, não, pelo contrario, sinto-me embriagada com a emoção e os pensamentos inebriam a minha mente!
Vou ver, vou observar, vou apenas viver …. prometo, se disso for capaz, fazer sentir a cada um que me lê a magia da realização dos sonhos!
Nove dias se passaram e, como prometido, tinha terra à vista.
Cheguei a Salvador da Bahia logo ao despontar do Sol e não continha em mim toda a emoção que isso representava.
Chegar ao Brasil foi um dos maiores acontecimentos da minha vida!
Chegar a Salvador, primeira capital do Brasil onde chegaram os meus patrícios quinhentos anos antes, de navio entrando pela Bahia de todos os Santos foi transcendente e simbólico! Nada mais voltaria a ser como antes e o melhor é que tudo vinha cheio de Paz e Amor!
Assim o acredito!
Depois de tudo preparar na noite anterior, fiquei com a roupa que vestiria e uma carteira de mão pequena. Tudo, eu tinha metido dentro da grande mala que me acompanhava. Queria chegar leve e solta e não perder nada: os cheiros, as cores, as gentes, os sons!
Do navio saí como entrei, sozinha.
E, percebi ao longo de toda a viagem, que esta nova forma de estar, que eu nunca, nunca tinha vivido, me agradava e viria a ser a que mais falta me fazia. Descobri que estar sozinha a descobrir o desconhecido é absolutamente enriquecedor e me preenchia.
Bastaram-me os que se cruzaram no meu caminho. Muitos foram os que conheci e que levarei pela vida porque deram-me a certeza da essência humana. O Homem é essencialmente Bom e nisso eu vou acreditar sempre.
O desembarque foi muito sereno e organizado, correndo tudo como esperado. Não dormi quase nada até porque me deitei muito tarde a queimar os últimos cartuchos na companhia da Sissa. As horas que me separavam da saída da cabine, às sete, eram poucas e a ansiedade muita.
Passei a noite a ver o céu estrelado da janela por cima da minha cama enquanto sonhava com o restinho que me faltava para a nova realidade!
As minhas expectativas eram gigantes porque dizê-las altas, grandes, muitas, não chegava. Eram exageradas, desmesuradas, imensas porque eu sabia, sempre soube, que a minha história com o Brasil é uma história de amor.
De amor à primeira vista, à primeira música, ao meu primeiro sonho!
Após o pequeno almoço, às seis, no Restaurante Panorama, reuni-me, como indicado, no Salão Broadway, com os passageiros do meu piso. A saída foi organizada por decks e os primeiros a sair seriam os do nove e, por ordem decrescente, depois sairam os outros sucessivamente. Entregaram-nos o passaporte, recolhido dias antes para preparar a entrada no Brasil.
E agora era o final. CHEGUEI BRASIL! CHEGUEI BAHIA! CHEGUEI SALVADOR!
O cruzeiro não terminava em Salvador, mas em Santos, São Paulo.
Não iriam sair todos, embora houvesse quem fosse fazer excursões por Salvador que de novo regressaria ao navio. Devido aos tramites da polícia federal brasileira a saída foi mais lenta. Tive ainda tempo de passear uma última vez pelo navio. Entregar uma toalha de piscina esquecida.
E, de perceber, que ali deixava uma parte importante da minha descoberta.
Saí do Porto de Salvador e logo ali apanhei um taxi.
Oitenta reais? Nem pensar! Setenta? Não, sessenta e não se fala mais nisso!
Mesmo assim fui aldrabada, soube mais tarde. A corrida nunca seria mais de 40, já por cima, incluindo o trânsito que estava intenso àquela hora da manhã e a mala pesada, pesadíssima!
Passei pelo Mercado Modelo, mesmo ali ao lado do Elevador Lacerda. Reconhecia a Bahia.
A conversa com o taxista fluiu naturalmente que sempre disponível me respondia com ar de sabedor e perguntava com curiosidade.
– Meu nome é Chico. É um prazer! – cumprimentou – Qual o destino, senhora?
– Ah, prazer Seu Chico! Eu vou para a Pousada Colonial, lá na Rua Direita de Santo António. – devolvi.
– Bem lá no centro … é rápido mas este trânsito atrasa tudo, né! – reclamou – Então veio neste navio? Lindão ele?! Deu até na televisão a sua chegada ao porto! – disse-me – É bom p´ró negócio!
– É, vim nesse navio! – respondi certa de uma realidade passada. – Saiu muita gente, então deve ser bom mesmo.
– E seu esposo? Não veio? Já está cá? – perguntou curioso
– Ah, eu vim sozinha! – esclareci.
– É mesmo! – exclamou alto.
– É! Mas vou-me encontrar com ele no Rio! – acalmei-o, mudando de assunto – Salvador é lindo e é muito, mas mesmo muito parecido com certas cidades em Portugal, como o Porto e Lisboa! Você já foi a Portugal?
– Que nada! Nunca saí daqui não! Mas já vi na televisão e sempre os portugueses me dizem isso … também cês que chegaram cá primeiro! – afirmou – É lindo sim, mas é um lamento de ser ver cada casa mais linda que a outra, dessa era colonial, destruída e ninguém se interessa em melhorar, em “tombar”!
– “Tombar”?! Você quer dizer classificar o património? – tirei a dúvida.
– Isso! Os políticos não cuidam de Salvador e chega nessa destruição e ninguém faz nada – reclamou de novo.
– Isso é um pouco por todo o lado. É preciso muito dinheiro para recuperar e os privados é que deveriam de investir! – opinei.
– Ah, dona, isso você não tem cá … cada um só pensa em se encher mais o bolso que já é cheio … o povo é que vive na miséria. É muito triste! – filosofou sobre a realidade difícil, para logo de seguida agradecer a vida – Mas a gente leva! E a gente é feliz também, Graças a Deus … olha só esse solzão abençoado! Deus é pai e Deus é brasileiro também! Ele cuida da sua gente, quem num cuida é politico safado e rico sem vergonha! – concluiu.
Concordei.
Depois de dez, talvez quinze minutos de rodagem, sem saber se era o melhor caminho, mas confiando, sempre confiando, entrei no centro histórico de Salvador e cheguei à minha rua.
CHEGUEI BRASIL! CHEGUEI SALVADOR! CHEGUEI BAHIA!
A beleza da traça herdada dos tempos coloniais misturava-se com o evidente descaso. Há casas cuidadas porque são utilizadas para o turismo.
O maior ganha-pão de Salvador, senão da Bahia, mas depois todas as outras casas, que são a maioria, estão entregues à capacidade de cada um cuidar ou estão mesmo abandonadas.
Mas eu apenas via a beleza e, só mais tarde, percebi que Salvador encerra em si mais que beleza. Não é melhor, nem pior. É uma herança secular muito pesada, presente nas diferenças sociais que vai mais além da raça, e que se vive, sobrevive e convive como em nenhum outro lugar. E isso também me fazia feliz!
Sorria, você está na Bahia!
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