Dizem que hoje é dia das crianças. E é. Hoje e todos os outros dias também. Tenho dois filhos rapazes. E tenho um amor incondicional por eles. Com eles sei que vivo a grande, a maior aventura, que é estar viva e ser mãe deles. Sim, esta ainda consegue ser a maior de todas as aventuras da minha vida.
O amor incondicional que não coloca condições.
Não se mede, não se assina, não tem pedido, não tem festa marcada, não se cobra. É algo divino. É algo do universo das estrelas. Esse é o amor que eu tenho pelos meus filhos.
Eu sou mãe galinha.
Quero saber tudo das suas vidas. Não me dizem nada.
Sou chata. Pergunto. Cobro. Faço tudo por eles. Quero que eles façam tudo por eles também.
Berro. Grito. Dou lambadas quando calha. Faço-lhes a cama e falo alto, sozinha. Já não lhes chego.
Dou-lhes beijos. Dou-lhes amassos. Chamo-os para jantar vezes sem conta. Já lhes disse, é o amor incondicional que lhes tenho.
Berro muito. Insulto as paredes. Praguejo a mesa. Fico sem palavras. A sopa já arrefeceu.
Vamos ao cinema. Vemos o James Bond vezes sem conta. Vamos à praia.
E rimos, rimos muito. E choramos.
Vamos aos hambúrgueres na baixa. Ou à pizzaria da praia. Bebemos coca-cola.
Também vemos nas madrugadas das férias de Natal o Pátio das Antigas (antigo) ou Casablanca, ambos a preto e branco. E comemos pipocas.
Lemos a Sophia, a Ducla Soares, o António Mota, a Alice Vieira, o Alvaro Magalhães. E os Harry Potter e todos os velhinhos da Enid Blyton (até o Noddy).
Ouvimos samba (que remédio têm eles). E sambámos também. E juntinhos simulamos passos de tango. Também isto é amor incondicional.
Montámos Legos e brincamos com Playmobil.
Tiramos fotografias. E selfies desfocadas. Fazemos os tpc’s. Corto-lhes as unhas. Grito.
Sabem as letras dos clássicos da MPB na ponta da língua que ouvem horas infindáveis nas viagens de carro, quer sejam os rápidos cinco minutos de casa ao colégio, como as lentas cinco horas para chegar ao Algarve.
Nada disto segue uma ordem, nem de factos, nem de tempo. É puro amor incondicional.
Não somos a família perfeita. Perdemos horas a discutir sobre não dever passar horas a olhar para os écrans azuis dos Iphones, Ipads, dos Imacs. Mas fazemo-lo na mesma.
As bicicletas enferrujam na cave mais depressa que se gastam nos passeios. As bolas só são chutadas em parceiros da mesma idade que o pai e a mãe preferem outros jogos.
Falámos alto, comemos com as mãos, levantamo-nos antes de todos acabarem o jantar. E esquecemos sempre a fruta, mas depois cada um trata de a comer. Colecionamos garrafas de vinho vazias no armário da sala de jantar.
Atrasamo-nos para os casamentos, os batizados, os almoços de amigos, o cinema, a escola, o emprego. Mas chegamos. E quando queremos enchemos a casa de amigos, conhecidos e desconhecidos, que rapidamente se dão a conhecer.
Preferimos o pijama ao ar livre, sem banho nem nada. Os quatro de pijama, o fim de semana, a despensa e o frigorifico cheios, e não precisamos de mais nada, mais ninguém. Bastámos-nos!
Até que, às vezes, decidimos ir e vamos e percebemos sempre que também há vida lá fora.
Somos assim, os quatro!
mh