Eu vim, viu … mas eu volto!

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Quando, a vinte e oito de novembro, eu partia do Rio de Janeiro tinha a certeza que regressaria em breve. Em fevereiro. A três de fevereiro. Assim estava marcado e comprado o meu voo. Por isso, devia de lá estar há cinco dias. Mas não estou.

Porque não fui? Porque não voltei? Porque há algo muito superior às minhas vontades, aos meus sonhos, aos meus planos, às minhas previsões que me levam por outro caminho e do qual não posso fugir!

Pela primeira vez na vida, em momentos distintos, entre lá e cá, fui confrontada com duas situações de decisão muito difícil, antagónicas no seu propósito, que me chamaram à responsabilidade da maturidade. Ambas implicavam escolhas. Ambas me distanciavam de mim que sonho e me aproximavam da realidade que vivo.

Entreguei ao destino, com o coração desfeito, estes acontecimentos que levam na carruagem tanta mais gente do que possam sequer imaginar. Tudo começou lá trás quando eu viajava para o paraíso e outros viajavam para o melhor que lhes podia acontecer. A partir daí tudo se cozinhou em banho maria, sem torrar, sem secar, e de prova em prova, temperando aqui e ali, com um ou outro ingrediente, levou ao manjar que sirvo hoje …

1974_MeninadeOya_Mangueira2016

hoje eu vestiria a minha fantasia, hoje eu dançaria na avenida, hoje eu seria verde e rosa, hoje eu seria subdita da Abelha Rainha, hoje eu viveria o mais louco de todos os meus sonhos … mas azedou.

E na loucura que me invade, que não me dá respostas, que me exige sabedoria, que me demanda paciência … eu derramo as minhas lágrimas.

mh

A homenagem mais linda …

Quem me chamou? Mangueira
chegou a hora, não dá mais pra segurar
Quem me chamou? chamou pra sambar
Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá
Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá

Raiou… Senhora mãe da tempestade
A sua força me invade, o vento sopra e anuncia
Oyá… Entrego a ti a minha fé
O abebé reluz axé
Fiz um pedido pro Bonfim abençoar
Oxalá, Xeu Êpa Babá!
Oh, Minha Santa, me proteja, me alumia
Trago no peito o Rosário de Maria
Sinto o perfume… Mel, pitanga e dendê
No embalo do xirê, começou a cantoria

Vou no toque do tambor… ô ô
Deixo o samba me levar… Saravá!
É no dengo da baiana, meu sinhô
Que a Mangueira vai passar

Voa, carcará! Leva meu dom ao Teatro Opinião
Faz da minha voz um retrato desse chão
Sonhei que nessa noite de magia
Em cena, encarno toda poesia
Sou abelha rainha, fera ferida, bordadeira da canção
De pé descalço, puxo o verso e abro a roda
Firmo na palma, no pandeiro e na viola
Sou trapezista num céu de lona verde e rosa
Que hoje brinca de viver a emoção
Explode coração

Quem me chamou… Mangueira
Chegou a hora, não dá mais pra segurar

Quem me chamou… Chamou pra sambar
Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá
Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá

 

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