E parti do Rio de Janeiro para Salvador! Deixava angustiada a cidade maravilhosa, mas assim estava programado. E soube ali que programar em demasia tornava-se um obstáculo. Agora era continuar.
No aeroporto estava o Fábio à minha espera para seguirmos para o Rio Vermelho, na orla. Desta vez não iria ficar no centro histórico.
Ficaria no Rio Vermelho. Do outro lado de Salvador.
Ficaria hospedada no Zank Hotel.
O Zank by Toque é um hotel intimista que escapa inteiramente aos padrões clássicos das grandes cadeias de hotéis internacionais. Os dezasseis apartamentos são distribuídos entre o casarão centenário e sua área contemporânea com uma bela vista para o mar. Todos os apartamentos mesclam, com elegância, móveis de época garimpados nos melhores antiquários e mobiliário de designers brasileiros.
Situado no charmoso e histórico bairro do Rio Vermelho, tradicional balneário do final do século XIX e residência de grandes artistas e escritores contemporâneos como Jorge Amado e Carybé, o Zank by Toque Hotel está a poucos minutos do centro histórico de Salvador.
E aqui tudo era diferente do que havia vivido em Salvador nos primeiros dias que cá tinha estado.
Fiquei na casa principal no quarto modernista que estava muito bem mobilado com ares de anos 50, com uma vista sobre a praia da Preguiça, uma enorme e muito charmosa sala de banho (com uma banheira de época igualzinha à que tenho em casa). Adorei!
É um privilégio ter um quarto com uma vista destas, é um privilégio esta Bahia em que se respira inspiração nos poros da terra, do ar, do céu, do mar.
E esta imensidão tomava conta de mim, visitando-me à janela, e as palavras saiam dando asas à imaginação. Algo novo se desenhava no horizonte, escrevia sem parar, e começava a ganhar forma o meu novo “xodó”.
Por este dias também me deixei estar a gozar do relaxamento que todo aquele ambiente me proporcionava. Queria o sol a beijar-me a pele que dourava e que bom que era.
Na magia do fim do dia, o pôr do sol chegava paralisando-me. Queria que aqueles instantes durassem para sempre pois nada se compara à beleza da natureza que se renova a cada dia como se de oportunidades se tratasse.
Jantei pelo Zank, no Restaurante do Toque, porque reservei meia pensão (o maior arrependimento nesta viagem!) e as notas de recomendação lidas antes de marcar eram boas. E tinham razão.
Embora não fosse nada do outro mundo, distante da comida baiana deliciosa e tradicional, mas bem confeccionado e bem servido! Em particular um misto de marisco que muito se aproximava do BOM marisco, difícil de comer por terras de Vera Cruz!
Bahia de todos os santos,
De São Salvador
De Mãe Menininha do Gantois
Quem vem de lá
Sente saudade
Do paladar
E da brisa do mar de Ondina
Sol de Amaralina
Da pele morena e do vatapá
A lua de “São” Jorge Amado
Da cor do pecado
De cravo, canela e jasmim
Flutua no céu da Bahia
De noite e de dia
Na paz do Senhor do Bonfim
Na Baixa do Sapateiro
Encontrei você
No calor da folia do carnaval
Me olhou, me sorriu, me fez um sinal
Dizendo que era do Abaeté
Mas seu corpo dourado de Itapoã
Tinha um cheiro gostoso
Flor de maçã, meu amor
Iaiá, Ioiô, Iaiá…
Céu da Bahia de Caetano Veloso
O passeio começou no Elevador Lacerda, bem no Centro de Salvador, de onde se via o Mercado Modelo e a Bahia de Todos os Santos. Aqui começa e se encerra Salvador, diz-me o guia imprevisto, Silval, profissional desta andanças desde moleque.
E sem guia, mas com guias, aproximam-se as baianas de plantão. Sorrindo!
Sorria você está na Bahia!
Aqui tudo se sente de forma intensa, aqui não se precisa ver para crer, aqui o que é de lá vem p´ra cá e não precisa de explicação, aqui tudo tem um jeito especial de ser!
Mesmo que para ganhar um trocado se sorria de sorriso rasgado, não se enganem, sorriem de bom grado e satisfação e ganham os cobres na mesma!
Com as suas trezentas e sessenta e cinco igrejas, Silval escolheu por mim a Igreja de São Francisco, homenagem ao meu filho.
A igreja ficava situada no Largo do Terreiro de Jesus, também a há de Santo António (que fica para uma próxima visita), e lá me desfiou o rosário barroco. A história ostensiva do ouro, das cargas de madeiras nobres, da angariação dos donativos.
A Igreja de São Francisco é uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, e junto com todo o Centro Histórico de Salvador, Património da Humanidade da UNESCO.
Seguimos pela calçada, apreciando eu, as ruas e as casa coloniais, relatando ele, as curiosidades das gentes como ele.
Menino de Rua, vivia mendigando atrás dos gringos, adivinho que possivelmente subtraindo, até se tornar guia oficial, já lá iam uns quarenta anos. Não tinha salário fixo, ganhava o que lhe pagavam pelo tour sabido na ponta da língua e garantia que durante aquelas duas horas nada de mal me acontecesse.
Com o céu coberto de nuvens e o calor e a humidade a apertarem refugiei-me de novo na Casa de Jorge Amado.
Queria, na verdade, ir à sua casa no Rio Vermelho, onde viveu com Zélia, sua mulher e onde toda a sua vida ainda se encontra exposta. Eu sei que cá vou voltar, por isso sereno e usufruo.
A minha barriga dava horas e paramos para almoçar num boteco de primeiro andar que não nos acrescentou nada, mas que nos reconfortou para continuarmos.
Desci ao Mercado Modelo para fazer compras de artesanato local.
Comprei as tradicionais e coloridas fitas, abençoadas, para as distribuir por quem é de bem, as crianças e outros que não sendo ainda o sabem ser, e um Santo António e um São Francisco! As minhas lembranças desta longa viagem!
O dia passou ainda pela orla mas o cansaço fazia-se sentir e queria chegar a casa. Queria parar e apenas receber todo aquele milagre!
E assim estive em Salvador! Certa de ser mais eu!
mh