As luzes da tarde tornavam-se duras, e, de súbito, a melodia suave das teclas pairava no ar … imaginem só, haviam espalhados diversos pianos onde quem soubesse e quisesse tocar podia fazê.lo para deleite de quem passeava. Uma maravilha!
Entrava no Passeig de Grácia, avenida burguesa onde encontramos residências de uma arquitectura fantástica, como a Casa Batlló que visitarei adiante, as mais sofisticadas e distintas lojas internacionais, e restaurantes de renome entre as cadeias conhecidas de todos.
O meu destino era certo, como disse, pois a Casa Batlló era um desejo antigo e tornava-se obrigatória esta visita. E não me arrependi. No nº43, fica esta casa modernista catalã, idealizada em 1875 por Antoni Gaudi e a sua equipa. É considerada património mundial da UNESCO e entende-se porquê.
Josep Batlló, o proprietário, queria destacar-se da família, e para tal contratou o arquiteto, que acabara de ganhar o concurso anual com a Casa Calvet. Com intervenção arquitectónica, este remodelou em profundidade o edifício, reorganizando os espaços, desenvolvendo a iluminação e a ventilação natural, acrescentou dois andares, e remodelou o terraço.
O edifício era na altura um exemplo típico de imóvel, construído para arrendamento, onde os proprietários viviam nos primeiros andares, e os restantes eram arrendados. Este era um novo conceito amplamente usado face às novas características da vida urbana, no final do século XIX.
A visão naturalista de Gaudí que inspirou-se no ambiente marinho. A variedade de cores, a predominância do azul marinho e do ocre das rochas apoiam esta tese. O azul marinho está presente na decoração das cerâmicas, na fachada, no vestíbulo e nos pátios interiores.
De acordo com o historiador Juan José Lahuerta, ” o interior do imóvel torna-se um espaço de tranquilidade para o homem que enfrenta as tribulações da cidade e a luta do mundo, numa espécie de gruta sub-marina onde se recolher, onde encontrar um espaço íntimo, à moda de Julio Verne (…) dentro do ventre materno da terra, da natureza”.
Tudo nos remete ao mundo submarino e a tranquilidade invade-nos pelas formas onduladas ou espirais que nos inspira o mar.
No sotão o corredor com os seus arcos centenários formam um ventre de um dragão.
Já no terraço, é absolutamente espectacular o grupo de chaminés agrupadas como cogumelos, que apresentam o dinamismo e a expressividade de uma escultura.
A entrada é paga e não é barata mas vale todos os euros gastos e inclui os fones de visita guiada. Este é um marco na arquitectura universal e uma inspiração sem precedentes. E para mim um elogio ao sonho e à loucura!
mh
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